O Paraná na rota do imperador
Dom Pedro II enfrentou lama, cocheiros perdidos e cavalos mortos durante
os 20 dias em que visitou a Província do Paraná em 1880
Demorou 27 anos para Dom Pedro II conhecer a província que havia criado em 1853.
A saga do imperador em terras paranaenses começou no dia 17 de maio de 1880
com o embarque no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. No dia seguinte,
ele já estava em Paranaguá. Durante 20 dias, Pedro e sua comitiva fizeram
cansativas viagens para conhecer as principais cidades paranaenses.
Muita lama, chuva e frio marcou a visita, que teve ainda acidentes com carruagens,
uma travessia entre Lapa e Curitiba que durou 17 horas, cavalos mortos
e cocheiros que se perdiam pelo caminho. Naquela época, a Província do
Paraná tinha cerca de 150 mil habitantes.
Como detalha o historiador Arnoldo Monteiro Bach,
em Paranaguá Dom Pedro II visitou a Câmara Municipal,
a Igreja Matriz, escolas, o Hospital de Misericórdia e até a cadeia.
E o imperador fez questão de narrar toda a jornada em diário. Pelos relatos,
percebe-se que a falta de estrutura chegou a assustar tanto ele quanto a esposa,
Thereza Christina. “Não há carruagem em Paranaguá.
A pé por péssimas calçadas até a casa espaçosa do Barão de Nácar”,
escreveu. “Era um Paraná primitivo, uma província em construção”,
explica Bach.
No dia 20, a comitiva imperial – que não se sabe por quantas pessoas
era formada – seguiu para Antonina. No mesmo dia, o comboio,
composto de sete carros, iniciou o percurso da Estrada da Graciosa rumo a
Curitiba. “Imagina naquela época a condição da estrada”, comenta Bach.
Além da lama, carruagens quebraram e cavalos morreram no percurso.
Depois de muitos percalços, eles chegaram à casa da viúva de Manoel Ramos,
em Rio do Meio. Era uma casa de negócio onde seria o pouso de Dom Pedro II.
O palácio imperial provisório ainda cheirava a tinta e não era muito confortável.
“Não se sabe como as demais pessoas se arrumaram para dormir”, diz o historiador.
Curitiba
A capital provincial foi ornamentada com 3 mil pinheirinhos para receber a comitiva.
O foguetório correu solto quando o imperador, que tinha 55 anos na época,
pisou na cidade. Em Curitiba, o casal imperial se hospedou no sobrado de
Antonio Martins Franco, na Praça da Matriz (atual Tiradentes). Ao chegar à cidade,
interessou-se pelo pinheiro e pela erva-mate. Visitou o Museu Paranaense
e se encantou com a história natural da província. Foi para Campo Largo e
depois seguiu uma jornada pela Região dos Campos Gerais, onde visitou,
entre outros locais, as colônias de imigrantes alojadas na região.
A rota imperial contemplou Palmeira, Ponta Grossa, Castro e Lapa.
O retorno da cidade de Lapa a Curitiba foi uma aventura que durou 17
horas. O condutor da carruagem se perdeu no meio do caminho e
um dos carros chegou a tombar. Outro acidente desse tipo já havia
ocorrido em Ponta Grossa. No dia 7 de junho, Dom Pedro II regressou
à Corte com o sentimento de missão cumprida. “O Paraná é uma bela
província de grande futuro”, sentenciou em seu diário imperial.
Inauguração da estrada de ferro motivou a ilustre visita
O historiador Arnoldo Monteiro Bach explica que um dos principais objetivos da
visita do monarca à Província do Paraná era inaugurar os trabalhos de
construção da Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba. “Desde 1865,
por sugestão do então Ministro da Agricultura Jesuíno Marcondes,
natural de Palmeira, falava-se na Corte sobre a importância dessa
ferrovia ligando o Litoral com o centro da província”, escreve o pesquisador.
Em 1871, por influência do Barão de Mauá,
Dom Pedro II interessou-se pelo projeto e,
em 1873 a obra entre Paranaguá e Morretes foi iniciada.
“Em seguida, a Compagnie Génerale Chemins de Fér Brésilien,
concessionária da Ferrovia, convenceu o Imperador a viajar
ao Paraná para inaugurar os trabalhos de construção da Estrada de Ferro”,
conta Bach. O projeto da ferrovia foi de André Rebouças,
elaborado em parceria com o seu irmão Antônio.
Com relação à inauguração dos trabalhos da construção da
estrada de ferro, que deveria ocorrer na chegada de
Dom Pedro II a Paranaguá, houve mudança na programação e
a data foi transferida para cinco de junho, no retorno da viagem
do imperador ao interior do Paraná. A obra solucionou o problema
de escoamento dos produtos do planalto para os portos da província.
A ferrovia foi inaugurada em 1885 com a presença da princesa Isabel,
filha do imperador.
Curiosidades
A passagem de Dom Pedro II pela Província provocou um alvoroço na população, que se mobilizou para receber bem o imperador:
Visitas
O pesquisador Arnoldo Monteiro Bach relata que por onde a comitiva imperial passava causava comoção popular. Dom Pedro II fazia questão de visitar escolas, comerciantes, ervateiras e artesões. “Naquela época não havia indústrias, então os artesões e os ferreiros, eram de extrema importância”, destaca. Ele diz ainda que boa parte dos locais onde o imperador pernoitou está preservada até hoje.
Ponte
Ao longo da BR-277, pouco antes da entrada da cidade de Palmeira, há uma ponte sobre o Rio dos Papagaios que foi construída justamente para a vinda do imperador.
Santa Casa
Durante a estadia de Dom Pedro II em Curitiba, o imperador inaugurou no dia 22 de maio de 1880 a Santa Casa de Misericórdia. Com 160 leitos, a Santa Casa era considerada um hospital de grande porte, e foi por muitos anos, o único da cidade.
Deslocamento
Para se deslocar dentro da província do Paraná, muitas carruagens foram emprestadas ao imperador pela nobreza local. A Baronesa de Tibagi emprestou seu elegante e luxuoso carro para Dom Pedro II seguir de Ponta Grossa a Castro, por exemplo. Estima-se que parte da comitiva seguia o trajeto usando diligências, que não possuíam os requintes de uma carruagem.
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