sábado, 9 de agosto de 2014

O Paraná na rota do imperador

O Paraná na rota do imperador

Wikicommons / Dom Pedro II e a família real: viagens cansativas pelo Paraná
Dom Pedro II enfrentou lama, cocheiros perdidos e cavalos mortos durante 
os 20 dias em que visitou a Província do Paraná em 1880
Demorou 27 anos para Dom Pedro II conhecer a província que havia criado em 1853. 
A saga do imperador em terras paranaenses começou no dia 17 de maio de 1880 
com o embarque no Rio de Janeiro, então capital do Brasil. No dia seguinte, 
ele já estava em Paranaguá. Durante 20 dias, Pedro e sua comitiva fizeram 
cansativas viagens para conhecer as principais cidades paranaenses.
Muita lama, chuva e frio marcou a visita, que teve ainda acidentes com carruagens, 
uma travessia entre Lapa e Curitiba que durou 17 horas, cavalos mortos 
e cocheiros que se perdiam pelo caminho. Naquela época, a Província do
 Paraná tinha cerca de 150 mil habitantes.
Como detalha o historiador Arnoldo Monteiro Bach, 
em Paranaguá Dom Pedro II visitou a Câmara Municipal, 
a Igreja Matriz, escolas, o Hospital de Misericórdia e até a cadeia. 
E o imperador fez questão de narrar toda a jornada em diário. Pelos relatos, 
percebe-se que a falta de estrutura chegou a assustar tanto ele quanto a esposa, 
Thereza Christina. “Não há carruagem em Paranaguá. 
A pé por péssimas calçadas até a casa espaçosa do Barão de Nácar”, 
escreveu. “Era um Paraná primitivo, uma província em construção”, 
explica Bach.
No dia 20, a comitiva imperial – que não se sabe por quantas pessoas 
era formada – seguiu para Antonina. No mesmo dia, o comboio, 
composto de sete carros, iniciou o percurso da Estrada da Graciosa rumo a 
Curitiba. “Imagina naquela época a condição da estrada”, comenta Bach. 
Além da lama, carruagens quebraram e cavalos morreram no percurso.
Depois de muitos percalços, eles chegaram à casa da viúva de Manoel Ramos,
 em Rio do Meio. Era uma casa de negócio onde seria o pouso de Dom Pedro II.
 O palácio imperial provisório ainda cheirava a tinta e não era muito confortável. 
“Não se sabe como as demais pessoas se arrumaram para dormir”, diz o historiador.
Curitiba
A capital provincial foi ornamentada com 3 mil pinheirinhos para receber a comitiva.
 O foguetório correu solto quando o imperador, que tinha 55 anos na época, 
pisou na cidade. Em Curitiba, o casal imperial se hospedou no sobrado de 
Antonio Martins Franco, na Praça da Matriz (atual Tiradentes). Ao chegar à cidade,
 interessou-se pelo pinheiro e pela erva-mate. Visitou o Museu Paranaense 
e se encantou com a história natural da província. Foi para Campo Largo e 
depois seguiu uma jornada pela Região dos Campos Gerais, onde visitou, 
entre outros locais, as colônias de imigrantes alojadas na região. 
A rota imperial contemplou Palmeira, Ponta Grossa, Castro e Lapa.
O retorno da cidade de Lapa a Curitiba foi uma aventura que durou 17 
horas. O condutor da carruagem se perdeu no meio do caminho e
 um dos carros chegou a tombar. Outro acidente desse tipo já havia 
ocorrido em Ponta Grossa. No dia 7 de junho, Dom Pedro II regressou
 à Corte com o sentimento de missão cumprida. “O Paraná é uma bela 
província de grande futuro”, sentenciou em seu diário imperial.
Inauguração da estrada de ferro motivou a ilustre visita
O historiador Arnoldo Monteiro Bach explica que um dos principais objetivos da 
visita do monarca à Província do Paraná era inaugurar os trabalhos de
 construção da Estrada de Ferro Paranaguá-Curitiba. “Desde 1865, 
por sugestão do então Ministro da Agricultura Jesuíno Marcondes,
 natural de Palmeira, falava-se na Corte sobre a importância dessa 
ferrovia ligando o Litoral com o centro da província”, escreve o pesquisador.
Em 1871, por influência do Barão de Mauá, 
Dom Pedro II interessou-se pelo projeto e, 
em 1873 a obra entre Paranaguá e Morretes foi iniciada. 
“Em seguida, a Compagnie Génerale Chemins de Fér Brésilien, 
concessionária da Ferrovia, convenceu o Imperador a viajar 
ao Paraná para inaugurar os trabalhos de construção da Estrada de Ferro”,
 conta Bach. O projeto da ferrovia foi de André Rebouças, 
elaborado em parceria com o seu irmão Antônio.
Com relação à inauguração dos trabalhos da construção da 
estrada de ferro, que deveria ocorrer na chegada de 
Dom Pedro II a Paranaguá, houve mudança na programação e
 a data foi transferida para cinco de junho, no retorno da viagem 
do imperador ao interior do Paraná. A obra solucionou o problema 
de escoamento dos produtos do planalto para os portos da província.
 A ferrovia foi inaugurada em 1885 com a presença da princesa Isabel, 
filha do imperador.

Curiosidades
A passagem de Dom Pedro II pela Província provocou um alvoroço na população, que se mobilizou para receber bem o imperador:
Visitas
O pesquisador Arnoldo Monteiro Bach relata que por onde a comitiva imperial passava causava comoção popular. Dom Pedro II fazia questão de visitar escolas, comerciantes, ervateiras e artesões. “Naquela época não havia indústrias, então os artesões e os ferreiros, eram de extrema importância”, destaca. Ele diz ainda que boa parte dos locais onde o imperador pernoitou está preservada até hoje.
Ponte
Ao longo da BR-277, pouco antes da entrada da cidade de Palmeira, há uma ponte sobre o Rio dos Papagaios que foi construída justamente para a vinda do imperador.
Santa Casa
Durante a estadia de Dom Pedro II em Curitiba, o imperador inaugurou no dia 22 de maio de 1880 a Santa Casa de Misericórdia. Com 160 leitos, a Santa Casa era considerada um hospital de grande porte, e foi por muitos anos, o único da cidade.
Deslocamento
Para se deslocar dentro da província do Paraná, muitas carruagens foram emprestadas ao imperador pela nobreza local. A Baronesa de Tibagi emprestou seu elegante e luxuoso carro para Dom Pedro II seguir de Ponta Grossa a Castro, por exemplo. Estima-se que parte da comitiva seguia o trajeto usando diligências, que não possuíam os requintes de uma carruagem.

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